
Eu não pertenço a nada. Não sigo filosofia ou crença alguma. Não julgo o mundo o mundo
a partir de uma lógica ou sistema. Não acredito em religiões. Todas pregam uma suposta paz, mas não perdem uma única chance de atirar no inferno os que atravessam o seu caminho. Padres, rabinos, pastores e monges – e outros confiscadores da moral – exigem de seus fiéis virtudes para as quais eles próprios não estão preparados. Julgam, mas não admitem serem julgados. Na base desse sistema incoerente estão “livros sagrados” que não passam de mera literatura. Livros que pregam a intolerância e infundem o medo nos homens.
Que bem pode advir da nossa recusa quase instintiva de admitir uma outra práxis, uma outra perspectiva religiosa além daquela que elegemos? Porque o misericordioso Deus bíblico é tanto mais respeitado por conhecer o ardil, a vingança e a violência?
A felicidade sobre a Terra depende da contundência da razão, força que deveria governar a vida de qualquer um. Depende do homem como medida de todas as coisas. Não há sentido apegar-se a anjos ou demônios. Não há nenhum deus, nem na historia nem no firmamento – estamos irremediavelmente abandonados. O que existe é um sentimento de orfandade em nossa espécie, que cria deuses para seu próprio consolo.
Glorifica-los significa glorificar a imensa e tola vaidade humana. Se devemos venerar algo, que seja o divino que há em nós, na natureza e nas coisas – e isso não é pouco. Mas venerar o divino é diferente de acreditar em um deus. Porque o divino pode estar, precisamente, na ausência de Deus.
Eu afundei no poço profundo que há em mim para buscar essas verdades. Eu tive coração
bastante para isso. Eu fui chamado de louco e apedrejado em praça pública. Simplesmente
porque meus algozes preferem acreditar no absurdo a se convencer que Deus é uma obra
e um delírio humano.
A minha loucura estar em ser livre. Essa é a única loucura permitida. Todo homem deveria descerrar as portas e janelas de sua casa, prisão ou castelo. Incendiar-se com paixões e os amores mais absurdos.
Escrever poesias e sair declamando-as pelas ruas como se fosse um Cristo literário. E desprezar a moral. Porque o bem e o mal estão confundidos desde a origem. Até porque Deus pode ser apenas o Diabo de férias.
Cássio Watson
0 críticas - Comente!:
Postar um comentário